Não é preciso muito esforço para perceber que algo não anda bem. A sociedade parece estar mergulhada numa síndrome de desobediência. Basta que alguém diga o que deve ser feito para imediatamente ocorrer o contrário. Tenho viajado muito nos últimos tempos e observo atentamente o comportamento humano. Os aeroportos são prato cheio para demonstrações de incivilidade. O ato é sempre contrário a orientação. Por exemplo: a comissária diz para manter os cintos afivelados até a parada total da aeronave, imediatamente ouvimos os estalos dos cintos sendo abertos. Novamente outra orientação: mantenham seus celulares desligados até o saguão. Pronto! Foi dada a “ordem”, imediatamente várias pessoas pegam seus telefones e começam a ligar desesperadamente. E quanto o trajeto até o saguão é feito por ônibus, pode-se ver placas de proibição do uso do celular por todo o ônibus, mas, ainda assim, são muitos os que estão cegos para tais orientações. Esses são alguns dos muitos casos de desobediência às regras da nossa sociedade.

Lamentavelmente, algumas pessoas perderam a capacidade de reflexão diante do mundo. Banalizam os pactos sociais e depois não são capazes de compreender as conseqüências de seus atos. A dimensão do ato, a princípio de pouca gravidade, vai aos poucos assumindo um peso considerável. Hoje a desobediência ao uso do celular, amanhã o desrespeito a vida, a honra, a dignidade. É preciso acordar a sociedade para a vida. Precisamos restabelecer o pacto social e fazer dele nossa proteção contra os maus. É triste ver tantas pessoas banalizando a civilização. Muitos têm doutorado, são grandes executivos, passaram por ótimas escolas, mas, ainda assim demonstram descaso para com a sociedade.

Há pouco tempo presenciei uma cena digna de nota: uma criança de mais ou menos cinco anos, num desses ônibus que levam os passageiros até o saguão, em bom tom e num volume espetacular diz a mãe: “mãe, mãe, porque está todo mundo falando no celular e tem aquela placa dizendo que não pode?” O constrangimento causado pela criança foi notório. Alguns meteram o celular no bolso em fração de segundos, outros nem mesmo ouviram as indagações daquela pequena criança diante do desrespeito às regras.

Certamente, sua visão de mundo já estará marcada pela incapacidade humana de respeitar os pactos. Resta lembrar que nossos pactos representam a vontade do povo, foram estabelecidos mediante a vontade da maioria, quase sempre num contexto democrático. Assim sendo, deveríamos fazer valer nossas vontades, nosso desejo maior de conviver numa sociedade justa e solidária. É preciso urgentemente provocar a reflexão acerca dos nossos valores, da nossa vontade de crescer numa sociedade para todos. Para isso resta conter o individualismo que paira sobre a sociedade, fazendo alguns acreditarem serem os donos do mundo.

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