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Pais não abandonem seus filhos
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Que a vida é cercada de mistérios, todo mundo sabe. Talvez a diferença é que algumas pessoas resolvem investigar os mistérios e fazer dele sabedoria. A educação de filhos é uma faceta dessa história. Muitos pais acreditam estar fazendo o melhor para seus filhos. Nutrem-se da experiência passada, da intuição, receitas caseiras e tentam fazer o melhor. Acontece, nem sempre se dão conta da diversidade dos sentimentos que rondam seus filhos, um universo paralelo à leitura dos olhos tece um mundo cercado de intrincadas teias e demandas.
Nos últimos anos me faço valer da experiência clínica para conhecer melhor esse universo. Crianças e adolescentes chegam até meu consultório, encaminhados por orientadores e pais, com todo tipo de demandas: notas ruins, envolvimento com drogas e outras queixas. Por trás disso, pais culpados, angustiados, e, em grande parte, com sentimento de fracasso. Nem sempre são capazes de tecer uma leitura que responda às atitudes dos filhos.
Embora, como disse, é vasta a diversidade de fatores que levam crianças e adolescentes a “desvirtuarem” de uma conduta esperada, podemos nos colocar atentos para algumas questões. Por serem recorrentes na clínica, quero relatar duas delas: a primeira, é dos filhos mais velhos. É muito comum encontrar a origem de problemas de crianças com irmãos mais novos num sentimento de abandono. Por alguma razão, prefiro não nomeá-las, pois assim cada pai pode ficar atento dentro do seu contexto familiar, a criança mais velha se sente abandonada com a chegada do irmão mais novo. Vale lembrar, ainda que a criança demonstre alegria e satisfação pela chegada do irmão, isso não é garantia de aceitação emocional por parte dela. Uma criança que se sente abandonada nesse contexto pode manifestar seu sofrimento através de rebeldia tardia. Ela de certa forma se posiciona no mundo da seguinte maneira: “ ninguém me ama mesmo, então não tenho porque retribuir a ninguém agindo como esperam “. Os pais desses adolescentes geralmente agem na contra mão da história: punem os filhos com castigos e xingamentos de toda ordem, reforçando internamente em seus filhos a cisão de afeto edificada com o nascimento do irmão mais novo. Tudo que essas crianças/adolescentes precisam é de amor, de atenção. Precisam ouvir de varias maneiras de seus pais que nunca deixaram de ser amadas; entender ser o amor materno capaz de abranger filhos sem que um não exclua o outro. A segunda situação é ainda mais interessante: muitos pais mantêm com seus filhos uma relação de amor e carinho até o momento em que a escola, num jogo perverso acredito eu, começam a mensurar o conhecimento em valores, fazer provas e avaliar os alunos. Daí, para muitas crianças, o “inferno” começa. Se não correspondem às expectativas da escola, se não apresentam bons resultados são punidas da pior forma possível ao ser humano: com o amor, o afeto. Infelizmente alguns pais transformam a vida de seus filhos num verdadeiro martírio. Pais assim, não são capazes de separar, da devida cobrança de resultados na escola, os afetos necessários ao amadurecimento de seus filhos. A triste matemática se resume em apenas isso: apresente bons resultados e você será amado. As conseqüências de atitudes assim são desastrosas para os filhos. Geralmente tomam antipatia da escola, e, com razão, afinal de contas a escola é sua grande rival. Foi ela quem tirou dele o amor e o afeto dos pais. Porque elas iriam “tratar bem” uma “rival”? Como disse, a vida emocional de uma criança guarda mistérios que muitas vezes passam desapercebidos aos pais.
A você pai que me lê agora, deixo um apelo: não castiguem seus filhos lançando mão do afeto; encontrem meios de “negociar” com seus filhos sim, mas nunca usem o afeto como moeda de troca.
Teuler Reis - REVISTA ESCOLA PARTICULAR - SIEEESP - www.sieeesp.org.br
Autor de Educação e Cidadania: A Batalha de uma Educação Comprometida – Editora WAK
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