No grande dilema da educação, o pensamento e a reflexão se distanciaram da práxis, não pactuam, soam como mundos distantes; a situação concreta da educação é uma acomodação em modelos ultrapassados, por vezes se revira o baú e faz-se colcha de retalhos. Belo seria ver a reflexão surgir da experiência da vida, do mundo real, dos becos e praças, dos centros e suas noites sangrentas, da corrupção desenfreada, e, assim, coze-las à sala de aula, aos corredores da escola, tecendo uma reflexão capaz de gerar o novo. O que vemos são reflexões garimpadas da mesmice, reproduções de filosofias ultrapassadas, olhares distantes da ruína que se forma em torno do ser humano. Em mim paira a nostalgia do humano, despido do circo armado em torno da educação, distante dos holofotes globais que cegam a possibilidade de fazer da experiência humana uma realização individual e dignificante. Sem saudosismo nem romantismo, não almejo retornos e nem sonho acordar um passado distante da realidade atual, mas anseio o novo, ainda que esse novo refaça nossas perspectivas sobre o sentido da existência humana. É preciso desatolar a educação desse lugar cansado, da decadência de seus caminhos. Que venha o risco, o medo. Há que se ousar para romper com esse modelo. O sintoma é por excelência aquilo que se repete; escrita dobrada onde a sutura é feita de dor. E como repete a educação!
Mas, sejamos cuidadosos e criteriosos na busca de uma solução. Receitas rápidas, oferecidas por aventureiros, podem ser indigestas e nos manter presos nessa desafortunada experiência. É preciso encontrar o caminho, ou melhor, façamos um novo caminho, busquemos a libertação e a purificação como meio de refazer a experiência humana usurpada de nós. Minha esperança alça vôos no pensamento de Heráclito: sem a esperança não se encontrará o inesperado, inacessível e não-encontrável.
E, como disse certa vez Martin Buber: “não me coloco numa larga e alta planície de um sistema feito de proposições seguras quanto ao Absoluto, mas sobre uma senda estreita de um rochedo, entre dois abismos, onde não existe segurança alguma de ciência enunciável, mas onde existe a certeza do encontro com aquilo que está encoberto.”


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