Refletir sobre o espaço da sala de aula ainda continua a ser um dos meus assuntos preferidos. Sabemos o quanto a educação no Brasil tem trilhado novos rumos e a cada dia percebo o envolvimento de muitos professores na construção de uma educação de qualidade. Sou convicto da importância de refletir sobre nossa atuação enquanto professores. A sala de aula é antes de tudo um espaço de troca. Existe um movimento recíproco de construção na sala de aula. Perceber isso é fundamental, diria mais: romper com uma postura representacionista do mundo é condição básica para educar. Interagimos o tempo inteiro com nossos alunos, somos transformados por essa interação da mesma forma que provocamos neles mudanças.          
        Tenho falado muito aos professores sobre o papel do educador. Ser educador é ser agente de mudanças, é se responsabilizar diante dos atos da sociedade. O educador precisa conhecer a dimensão do seu papel na sociedade. Não nascemos humanos, a tarefa de humanizar é nossa, dos pais e educadores, da sociedade como um todo. Saber disso nos implica, de maneira consciente, na construção de um mundo melhor. A tarefa de educar dispensa a presença de pessoas incapazes de se comprometerem com seu trabalho. As mazelas da nossa sociedade é fruto do descaso, do desleixo ao educar. Fazer por fazer é algo dês-humano quando falamos de educação.
        Uma tarefa extremamente importante na vida do professor é refletir sobre sua prática. Quando fazemos isso criamos possibilidade de, não somente voltar nosso olhar ao trabalho realizado, como também podemos aprimorar nosso trabalho e é claro, podemos compartilhar idéias com outros colegas.  
 Trabalhava com uma turma de sexta-série questões ligadas ao consumismo da sociedade, ao hedonismo ( busca do prazer imediato). Já havíamos conversado um pouco sobre o assunto. É preciso conhecer a percepção dos nossos alunos sobre o tema a ser trabalhado. Ao fazer esse levantamento de conhecimento prévio garantimos um melhor desenvolvimento e aproveitamento nos conteúdos em sala de aula. Como dizia, discutíamos sobre a sociedade consumista. Meu trabalho na aula seguinte era discutir sobre o capitalismo, qual o papel do capitalismo diante dos nossos desejos. A impressão que nos dá é que ele gera a satisfação. Mas será mesmo assim? Queria provocar os alunos a pensarem para além das aparências. Discutir os valores que a sociedade de forma tácita nos coloca. Foi então, depois de buscar idéias e pensar numa estratégia de trabalho que veio a solução. Cheguei em sala e peguei uma cadeira, dessas que giram. Coloquei a cadeira na frente da sala e assentei nela. Girava na cadeira, impulsionava meus pés de maneira que podia deslocar de um lado para o outro. Os alunos me olhavam com carinhas de espanto e diziam:” Que isso professor? Ficou louco? Gente o professor pirou!!” . Eu continuava a girar na cadeira e dizer coisas como:” Gente olhe bem minha cadeira, ela não é ótima. Eu adoro minha cadeira, ela é super moderna, estou muito satisfeito com ela”. Nesse momento tinha atenção de todos os alunos. Levanto e digo  que agora já não era mais eu quem estava ali, ao dizer isso puxei a cadeira em outra direção e falei, olhando na direção que estava anteriormente:” Teuler!!! Olhe aqui, veja minha cadeira. Ela é bem melhor que a sua, tem regulagem de altura. Olhe como é moderna.” Nesse momento retorno a cadeira para o primeiro lugar e, uma vez assentado nela digo aos alunos com uma cara de tristeza: “nossa! Eu estava tão satisfeito com minha cadeira, agora não estou mais, quero aquela” (apontando na direção em que me encontrava antes no papel do vendedor). Enceno comprar a nova cadeira e novamente volto a fazer cara de satisfação e girar com a cadeira demonstrando estar pleno. Repito a encenação mais uma vez no papel do vendedor. Dessa vez com uma cadeira ainda mais moderna. E, novamente minha satisfação cede lugar a insatisfação diante do novo produto. Nesse momento escuto um aluno dizer: “ é igual ao celular professor”. Era a deixa para discutir o consumismo e a corrida louca em busca de novos produtos propagandeados  pela mídia.
          Acredito na mudança, mas nenhuma mudança é possível quando continuamos a fazer as coisas do mesmo jeito. Nós, educadores temos em nossas mãos a possibilidade de transformar a sociedade. Para isso devemos nos envolver no processo educativo. Lutar por uma sociedade mais justa e humana.
                                                          
 
Teuler Reis

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