Sou da opinião de que devemos nos deter frente àquilo que habitualmente chamamos de indisciplina em sala de aula. Satisfazer com rótulos nos retira a oportunidade de entender questões que nos escapam num primeiro olhar, mas que, quando nos debruçamos sobre elas, representam grandes possibilidades de mudanças.
Uma dessas possibilidades é a vaia em sala de aula. Essa situação “comum” hoje em dia pode ser vista e tratada junto aos alunos de maneira tal que produza uma grande mudança. Eu estava em sala de aula e comecei a pensar no porquê daquelas vaias, percebi que alguns alunos vaiavam sem nem mesmo saberem de que se tratava. Decidido a intervir naquela situação comecei a perguntar aos alunos, que eu sabia não terem conhecimento do motivo da vaia, o que eles estavam vaiando.
Assim, por várias aulas a situação se repetiu. Perguntava a um aluno e outro e eles não sabiam o que estava vaiando. Depois dessa intervenção, cheguei um dia em sala e perguntei a vários alunos qual era o sentimento deles diante das vaias, como eles se sentiam quando eram vaiados ao perguntarem algo ou ao fazerem uma colocação em sala. Fui anotando no quadro e, em pouco tempo, o quadro estava cheio de termos que expressavam: angústia, medo, sofrimento, repreensão, sufocamento, derrota etc. Nesse momento, pergunto a classe onde podíamos encontrar situações parecidas de vaias. No estádio de futebol para fazer o adversário perder foi a resposta mais evidente.
As perguntas que se seguiram foram entre outras: e ali na sala de aula estavam querendo fazer o colega perder? Querem calar o outro? (prato cheio para psicanálise) O que está por traz do aluno que vaia sem nem mesmo saber o que esta vaiando? Maldade? Ou seria interessante pensar que uma vez que não consigo “subir” como meu colega eu simplesmente puxo o tapete dele? Não tenho forças para produzir, para crescer, não tenho sede de conhecimentos, mas você também não vai ter.
Seria essa a mensagem do aluno? Isso tudo considerando que, quando os alunos diziam seu sentimento diante da vaia, eu perguntava se eles se sentiam à vontade para fazerem novas perguntas em sala, e eles afirmavam que não. A vaia teria então a função de calar, de fazer com que os alunos se habituassem a não dizer o que pensam, não se expressarem.
Estamos diante de algo que compromete o aprendizado do aluno. Estamos diante também, por que não dizer, de uma violação dos direitos humanos, uma vez que o direito de se expressar é desconsiderado e impedido.
Questões como essas ficam no vazio se as nomeamos de indisciplina simplesmente. Acredito que devemos estar atentos às possibilidades de construir um novo espaço em sala de aula. Devemos priorizar o resgate de valores e posturas no espaço escolar, essa mudança terá reflexo na formação integral de nossos alunos.

Teuler Reis

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