Recentemente, programei uns debates para trabalhar mídia em sala de aula. Achei que precisava começar minha aula chamando atenção para o fato de os alunos, ao se colocarem em sala de aula, fazerem isso sempre com o olhar no professor. Assim, chamei alguns alunos na frente, a sala estava em círculo, pedi a eles que fizessem de conta que estavam conversando entre eles e eu iria representar duas cenas.
Então, cheguei até eles e contei uma história, fiz de conta que era um amigo que apareceu sem mais nem menos. Nessa primeira cena, eu propositadamente falei com eles, mas mantive meu olhar em apenas um deles. Na cena seguinte, repito a mesma história, mas desta vez, olhava o grupo como um todo. Após as duas cenas perguntei qual a diferença entre elas. Para minha surpresa, se é que foi mesmo surpresa, nem um dos alunos foi capaz de dizer a diferença. Disseram da maneira que contei que dei mais ênfase na primeira cena, que a história estava mais bem contada na segunda cena e outras questões que não diziam da indiferença minha ao contar.
Após a observação dos participantes, perguntei a classe se tinham notado algo. Nada, não notaram nada. Passei a questão ao grupo, disse em tons de brincadeira que não iria levá-los ao hospital, mas sim para o CTI. Disse que era muito sério ninguém notar algo tão absurdo. Estavam anestesiados diante do outro? Do desprezo do outro? Não lhes incomodava o fato de estarem sendo "desprezados" pelo outro? Não é muito sério isso? O que estava acontecendo que os alunos se comportavam daquela maneira? A discussão que se seguiu teve entre outras questões essa postura diante do grupo.
Eu questionei aos alunos o porquê de eles não olharem seus colegas durante um debate. Foi surpreendente. Eles diziam coisas como: "ah, eu olho para o professor porque sei que ele vai estar me dando atenção, porque os outros não estão nem aí", "sei lá, eu nunca parei para pensar nisso", " porque quem dá nota é o professor" etc.
Depois de discutido o assunto, propus a eles que tentassem repensar essa questão, pois devíamos pensar na idéia de grupo, sendo preciso criar um clima de participação em que as pessoas sejam respeitadas, até porque ali dentro tínhamos diversas pessoas com experiências únicas e devíamos escutá-las. Foi difícil. No início, eles me buscavam com o olhar, era difícil deixar de olhar o professor. Mas com o tempo, as coisas foram tomando novos rumos. Lembro-me de um aluno que disse que no início ele ficou meio sem graça, mas depois percebeu que tinha outras pessoas que o escutavam e isso era bom.
Eu continuo refletindo sobre a questão. Pergunto-me que lugar é esse em que o aluno foi colocado? Qual a idéia que o professor ocupa nesse lugar de saber, que deveria ser de troca? Será que o aluno se coloca tanto no lugar do não-saber que julga não ter o que dizer e, portanto, não tem o que escutar do colega? Nosso processo educacional está de certa maneira criando essas posturas?
São muitas as interrogações, mas sei que precisamos buscar maneiras de sensibilizar os alunos da importância da escola em suas vidas, para eles perceberem que eles não são apenas alunos que da porta da escola para fora deixam de ser. Não podemos alimentar essa cisão, essa divisão faz com que a escola não tenha sentido senão da porta da escola para dentro. O aluno tem o que dizer na escola e isso não está claro nem para ele nem para escola.
Teuler Reis