Publicação da Revista AMAE Educando Ano 44 Nº 377 Março 2011
Teuler Reis é psicólogo, psicanalista, consultor familiar e escritor (Belo Horizonte - MG)
Falar de valores e de virtudes, nos tempos atuais, é um grande desafio. Falar de ética, então, torna-se ainda mais complicado. Ela é o alicerce da nossa sociedade, é exatamente o que estrutura as relações humanas. Não há como deixar de pensar na ética, ela forma nossa identidade e estabelece nosso pacto social. A precariedade das relações humanas deve-se, atualmente, em grande parte, à dificuldade do sujeito em se ver na condição de aprendiz. Ele esquece que devemos aprender sempre, esquece também que todas as nossas virtudes são aprendidas. Tornamo-nos seres humanos com a família, com a escola e conosco mesmos. Preocupa-me perceber que isso não está claro nem para os pais, nem para os professores.
Ver-se como parte de uma sociedade implica um movimento de busca, de reflexão profunda. A cada momento, somos confrontados com novas revelações acerca da precariedade de nossas verdades. Não nascemos humanos. Nós nos tornamos seres humanos, existe um caminho para se chegar aí. A consciência disso coloca o sujeito num outro lugar, o lugar de responsável pela sua construção. A capacidade, ou melhor dizendo, a liberdade de escolha nos garante apropriarmo-nos do mundo e transformá-lo. Talvez seja essa percepção, poder nos apropriar do mundo e transformá-lo, a chave de toda credibilidade que deposito na ética como um caminho. Somos empreendedores de nossas vidas, apropriamo-nos do mundo e comungamos ideias e valores. Essa troca nos possibilita crescer.
O segredo do sucesso é necessariamente o conhecimento. Para isso, é preciso vontade, disciplina e método. Mas, parece-me que todas as forças da sociedade direcionam nossa atenção para outro lugar. Pensar é, para muitos, sinônimo de trabalho. As pessoas não querem se haver com isso, com esse trabalho que nos confere liberdade. Preferem ficar à mercê das forças citadas acima do que pensar. A questão complica-se nesse ponto. Não há outro caminho para não se tornar mais um na multidão. Seria muito bom, se pudéssemos evitar as frustrações, as angústias, os nãos que a vida nos dá. Mas isso não é a realidade. A própria morte é um não. Não podemos nos imobilizar diante desse cenário, ao contrário, as angústias devem ceder espaço a um desejo de continuar em busca da verdade encobridora do ser humano.
Se hoje vivemos num mundo de muitas informações, nem por isso podemos dizer que temos muito conhecimento. O conhecimento não se confunde com a informação. O conhecimento é significativo, insere o sujeito no mundo. Como educadores, temos a possibilidade de despertar, nos alunos, o desejo de transformação. Podemos orientá-los no caminho do conhecimento; podemos fornecer as pistas para eles crescerem como seres humanos. Porém, antes, nós devemos encontrar esse caminho. Acreditar na mudança não é algo que se ensina, mas é algo que se transmite na emoção.
Olho: “Se hoje vivemos num mundo de muitas informações, nem por isso podemos dizer que temos muito conhecimento.”