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ENTREVISTA NO BOM DIA MINAS 28/11/2010

Penso que o próprio nome já nos diz tudo: é pré- conceito. Alguém que vive numa situação e atua na sociedade “ignorante” da verdadeira realidade. Desconhece as razões do outro. O preconceituoso é um sujeito vendo o mundo com olhos “emprestados”, nem sempre ele sabe por que está nesse lugar. Visto por esse lado podemos perceber a importância de uma tomada de consciência diante do preconceito. Nosso sistema educacional tem “acordado” para a importância de trabalhar os preconceitos desde cedo. Os parâmetros curriculares nacionais convidam as escolas a trabalharem seus alunos no sentido de esclarecer os pré-conceitos existentes.

Já tive oportunidade de atender pais desesperados ao constatarem a eminência da homossexualidade em seus filhos, quase sempre chegam até mim tristes e perplexos com a “escolha” de seus filhos. Minha primeira fala a estes pais é no sentido de romper com o pré-conceito de pensar em “escolha”. Ninguém escolhe ser heterossexual ou homossexual; trata-se de uma orientação e não de uma escolha. Já nesse momento percebo o pré-conceito sobre o tema.

E penso, sinceramente, que é assim em todos os preconceitos vividos na sociedade. As pessoas se deixam levar por certos rótulos, certas escolhas, e muitas vezes elas não tem consciência das suas escolhas, não fazem uma reflexão crítica. Preconceito é falta de educação, educar- a - ação, é falta de orientação dos pais e educadores. É realmente triste constatar que moramos num país democrático e ainda assistimos fatos lamentáveis de discriminação e preconceito. Ainda estamos longe da verdadeira democracia, aquela em que ser cidadão é condição para seguir no jogo.

Grande parte das mazelas são frutos do desleixo na educação. Nossa sociedade trocou o ser pelo ter, e assim pagamos um preço muito alto. Cito as virtudes como exemplo. Virtude vem de virtus, significa excelência, é ser o melhor, melhor ser humano. E vale lembrar que todas nossas virtudes são aprendidas, como também vale ressaltar que não nascemos humanos, nós nos tornamos seres humanos. Se os pais e a escola não abraçarem a formação dos valores humanos, vamos continuar a ver cenas bárbaras acontecerem na sociedade.

O sujeito preconceituoso deveria ter vergonha da sua condição e procurar mudar. Ainda que dentro dele exista algum preconceito, ele não deve colocar seu corpo a serviço, ou seja, não deve colocá-lo em prática; uma coisa é pensar, sentir, outra muito diferente é agir preconceituosamente.

Vivemos no país da síndrome de Gabriela, eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim... Isso não existe. Podemos mudar a qualquer momento da nossa vida, mas para isso devemos ter vontade de mudar. Importante os pais participarem dessa mudança, ter um olhar mais cuidadoso para as atitudes dos seus filhos.

A sociedade vive uma inversão de valores, se você tem isso e aquilo você vale, tem valor, mas se você não tem, você não vale nada. É uma inversão total dos valores humanos.