Há poucos anos, era difícil encontrar pais que não soubessem dizer, com absoluta certeza, quem eram os amigos dos seus filhos. Nos dias de hoje, chegamos à lamentável constatação de existirem pais que não conhecem seus próprios filhos. E não estou considerando as vicissitudes da vida como: pais separados, pais ausentes e outras formações familiares do mundo dito moderno. Em tais casos, a distância, muitas vezes, dificulta um acompanhamento mais presente na vida dos filhos. Refiro-me à tradicional família brasileira, pai, mãe e filhos, vivendo sobe o mesmo teto. Alguns pais vivem alienados da formação dos filhos, de suas personalidades e seus anseios, o que dizer, então, dos amigos dos seus filhos?

Para começar, a palavra amigo agrega em si uma série de rótulos que, como pais, devíamos nos deter e pensar um pouco. O que é ser amigo? Você já perguntou ao seu filho o que significa amigo para ele? Aquele com quem ele divide uma sala de aula é um amigo ou um colega? Nos dias atuais é comum encontrar crianças e adolescentes que acabaram de se conhecerem e já estão se tratando por amigos. Será essa uma relação saudável? E nós, pais, como nos colocamos nessa relação? Acompanhamos nossos filhos nas suas amizades? Estamos atentos a suas companhias e seus círculos de amizades?

A relação de amizade é de extrema importância na formação do ser humano. Eu diria indispensável para saúde física e emocional. Com os amigos aprendemos a apalpar a vida sem medo de errar. Projetamos nossos medos e desejos e somos capazes de amadurecer para num futuro próximo, e estarmos aptos a agir com autonomia. O amigo é o encontro com nós mesmos. Sentimo-nos à vontade diante do amigo, pois ele é nosso espelho e porto seguro para nossas tentativas de acertar no mundo. Porém, o amigo é também aquele com quem compartilho o desconhecido, o outro jeito de ser, comungando valores desconhecidos do meu âmbito familiar. Amigo é conivente. O que diferencia pais de amigos é exatamente isso: pai não é e não pode ser conivente. Costumo dizer aos pais que eles são muito mais que amigos, pois ser pai é se colocar em um outro lugar, acima da relação de amizade.

Você, pai, é diferente do amigo que é conivente com seu filho, quando ele cola na escola, por exemplo. Você não vai ser conivente com valores negativos do seu filho, com o uso de droga, por exemplo. O papel dos pais é outro, é reforçar os valores humanos, a honestidade, a justiça, o respeito e tantos outros valores. Faço lembrar essa diferença, pois ela nos aponta para o lugar de responsável pela formação humana. Cabe aos pais e educadores lembrar da importância de ser referência positiva na vida dos filhos.

Já faz um bom tempo da ultima vez que ouvi alguém dizer: diga-me com quem tu andas que eu lhe direi quem tu és. Essa frase, no meu tempo de adolescente, era a mais rejeitada e antipatizada pelos adolescentes. “Nada a ver”, dizíamos aos nossos pais. Hoje, quase trinta anos depois, repenso como existe algo de verdadeiro nesse ditado. E, não é difícil chegar a essa “verdade”. Os adolescentes passam por uma experiência muito significativa na vida. Estão em busca de modelos e parâmetros novos. Querem a todo custo afirmar suas identidades e se tornarem diferentes. Alguns vão longe nessa busca de afirmação. Querem e fazem de tudo para serem diferentes dos modelos conhecidos até então, ou seja, os pais, os professores e aqueles que os acompanharam no decorrer da infância e, consequentemente, fizeram escolhas para eles.

Ser adolescente é um grito entalado de : CHEGA!! AGORA QUEM ESCOLHE SOU EU!! E de certo modo devemos ser compreensivos com a busca de autoafirmação. É importante para eles essa passagem. No entanto, como pais, devemos estar atentos aos relacionamentos de amizades. Pois é nesse momento de busca de identidade, de autoafirmação que o adolescente encontra no amigo um modelo a ser seguido. Saber quem são os amigos dos seus filhos é saber quem são seus filhos. “Nunca notamos a semelhança, só a diferença choca”, ouvi essa frase um dia e nunca mais a esqueci. Diferente do que nos parece, a semelhança passa despercebida a ponto de não lhe darmos importância, e, curiosamente, a semelhança, em alguns casos, como nas amizades, pode representar um pedido de cautela. Se o amigo do meu filho é muito “diferente”, eu logo me preocupo em saber de quem se trata, de onde veio. Porém, se ele é parecido, tem o mesmo jeitinho, me acomodo e nem procuro conhecer melhor seus valores e comportamentos. Como pais é muito importante estarmos atentos aos amigos dos nossos filhos.

Teuler Reis

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