Quem está disposto a prestar vestibular precisa tomar conhecimento de uma série de fatos: a escolha profissional, a ansiedade que envolve o vestibular, os medos, as angústias etc. Não é apenas o conhecimento que se obtém em sala de aula que irá garantir ao aluno uma vaga na universidade. É preciso que o aluno obtenha conhecimentos de seus valores, de seus princípios e de seu projeto de vida. Assim, ele se sentirá pronto para realizar sua escolha e concorrer.
O que se observa a princípio é que, na maioria das vezes, o que acontece é um distanciamento do aluno frente à verdadeira realidade das coisas. Ele não consegue estabelecer uma relação saudável frente ao vestibular, ou, ainda, ele tem uma visão distorcida da verdadeira situação que ocorre na busca de uma vaga.
O aluno deve tomar consciência de que o vestibular, nos dias de hoje, é coisa bem diferente. Há poucos anos atrás, no tempo de seus pais, provavelmente, era comum um aluno que estudasse bastante durante o ano passar na primeira tentativa. A concorrência não era tanta. Hoje em dia isso não é o esperado, não é bem a realidade. Existem alguns cursos, por exemplo, Direito, Medicina, Fisioterapia, que exigem do aluno, na maioria das vezes, um tempo maior de preparação.
É preciso também levar em consideração a origem do aluno, ou seja, a escola de onde ele veio (colégio técnico/ público/ particular), considerar ainda aquele aluno que veio do interior e está passando por um período de adaptação, muitas vezes um processo doloroso e até angustiante.
Entrar na faculdade é um ato de coragem, é questão de maturidade, de organização, de percepção das coisas como elas realmente são. Não é uma luta contra o tempo, não é uma questão de vida ou morte. O aluno tem de perceber a realidade das coisas, pois se ele não avança, não “cai na real”, ele “dança”. É comum o aluno dizer que está muito ansioso, que não vai conseguir passar, que estudou o ano todo, que vai perder um ano etc. Outras vezes faz um simulado e não vai bem, tenta resolver uma questão, não consegue e já considera seu esforço como perdido. Na grande maioria das vezes, o que está errado é sua percepção das coisas, é a falta de reflexão, é a angústia diante da busca frente ao desconhecido. O aluno pode achar que perdeu um ano. Ninguém perde um ano, isso não existe. Aquilo que ele aprendeu durante o ano ninguém apaga, ninguém toma.
O aluno deve valorizar seu trabalho, sua dedicação, seu esforço. Ele deve procurar responder ao seu próprio desejo, porque o outro que está de fora nem sempre sabe reconhecer o trabalho merecido do aluno. É surpreendente ouvir certos alunos admitirem que não pesa tanto o fato de não entrarem na faculdade, mas pesa muito terem de contar seu fracasso para os outros, terem de dizer que não passaram.
O aluno deveria pensar no vestibular como alguma coisa que faz parte integral de sua vida e não como uma estrada estranha que ele toma por um determinado tempo e depois retorna à estrada principal. Se a coisa funcionar dessa forma, como algo estranho, algo externo a ele, ele vai ficar o tempo todo angustiado, perdido, sufocado. Ele deve experimentar colocar o vestibular como algo que não foge da sua realidade, como parte integrante de sua vida. Deve lembrar que não existe um tempo determinado para entrar na faculdade, pois existe, sim, um trabalho a ser realizado para que isso aconteça.
Eu poderia relacionar mais um grande número de situações cotidianas que se refletem no processo de preparação para o vestibular. No entanto, existem fatores que não são comuns a todos, são particulares a cada sujeito, únicos. É necessário que o aluno busque ajuda, encontre alguém que possa ajudá-lo a refletir melhor sobre seu momento atual.
Estado de Minas, Caderno Opinião, p.7, dezembro de 1998.
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