Tenho recebido pedidos carinhosos de professores para escrever mais sobre minhas experiências em sala de aula.
Vejo a sala de aula como um pequeno laboratório da sociedade como um todo. Os alunos trazem valores, posturas, maneiras distintas de ver o mundo e de interagir com ele. Nós não ficamos de fora desse micro-mundo. Ser professor não é estar num camarote longe da cena, é estar na cena. Se não percebemos isso, não seremos capazes de ajudar nossos alunos a avançar na vida.

Hoje vejo um grande problema nas salas de aula. Revestimos nossos alunos de frases prontas, de rótulos pesados.
E, quando nos demos conta, eles já haviam assumido o papel.

Entrar numa sala de aula, para grande maioria dos alunos, é como entrar num palco. Há um papel para representar.
E, acreditem, são muitos papéis. Prefiro não relacionar aqui, temos coisas mais importantes para pensarmos juntos.
Por exemplo: até que ponto trabalhamos para desconstruir esse papel que criamos para nossos alunos?
Temos consciência do nosso papel de adultos a ponto de fazer dessa consciência uma ferramenta de trabalho em sala de aula?
Temos também um  “texto pronto” em sala de aula? Estamos assim como os alunos reproduzindo condutas prontas e mal acabadas?

Por alguns momentos fiquei parado olhando e relendo as perguntas acima. Passou um pequeno filme na minha cabeça.
Lembrei das vezes que ouvia alguns profissionais da educação dizer coisas semelhantes e eu pensar: é fácil falar, vai para sala de aula. Incomodava aquelas frases prontas.

Me ver repetindo algumas dessas frases é pesado, mas uma realidade.

Relembro minha luta em sala de aula. Houve momentos que pensei em desistir. Acreditava ser impossível lidar com aquela situação de apatia, de falta de respeito, de desconforto em sala.

A mudança aconteceu no exato momento em que me vejo repetindo comportamentos prontos e estabelecidos.
Decorava o “texto” (ser professor é assim..) e representava em sala de aula. E, incrível, no meu texto havia os maus alunos.
Eles eram, não estavam. Toda a mudança começou aí. Decidi escrever meu próprio texto. No texto pronto, eu chamava atenção dos alunos que conversavam durante uma explicação em sala de aula, no meu novo texto, eu lhe perguntava o que ele estava compreendendo das minhas palavras. Ele se desconcertava e dizia a famosa frase: “ foi mal professor”. Percebia que não precisa mais chamar atenção dele, já havia chamado. No texto pronto, fazia chamada através de números, no meu próprio texto os números não faziam parte de uma sala com seres humanos, passei a fazer chamada e aguardava os alunos olharem para mim. Queria vê-los.
Olhar nos seus olhos, não é assim que sentimos a presença de alguém?  Os alunos aos poucos foram se percebendo dentro de outro “texto”. E como agir dentro desse novo texto? Não estavam preparados para o diferente, para o novo.

O aluno se percebeu respeitado. Não se sentia exposto em situações que normalmente ficariam.
Troquei as broncas por maneiras novas. Estabelecia as regras nos primeiros dias de aula com os alunos e as cumpria.

Já escrevi sobre a persuasão, não me lembro quando, mas me ocorreu novamente o seu sentido, sua origem.
Para os gregos temos uma fenda que leva até a alma, persuadir alguém é entrar nessa fenda e mudar a alma do outro.
A questão é que nem sempre o mapa é o mesmo. Não podemos nos iludir pensando que vamos atingir a alma de todos nossos alunos da mesma maneira. O mapa é outro, os obstáculos são outros, o terreno é outro. Com alguns alunos se chega até a alma esquiando, e levar esqui a terrenos rochosos pode não ser boa ideia.  É por isso que precisamos nos conscientizar do nosso papel de explorador da alma humana. Somos os adultos e eles aprendizes. Não há receita pronta.
O que existe é uma disposição enorme para vencer os obstáculos que aparecem.
Pensem nisso!

 

                                               Um grande abraço,

                                                                       Teuler Reis

Joomla templates by a4joomla