A revista veja de 17/08, entrevista o psiquiatra inglês Anthony Daniels. O artigo discorre uma análise sobre o sistema prisional e o comportamento dos criminosos. Discordando de Rousseau quanto ao fato de que o ser humano é naturalmente bom, o inglês prefere a visão cristã de que o homem nasce com o pecado original (comungo de sua ideia).
O que me chama atenção em sua entrevista é sua colocação quando diz que a nossa sociedade, por influência de Rousseau, relativizou a responsabilidade dos indivíduos. Segundo ele, o pensamento intelectual procura explicar o comportamento das pessoas como uma consequência de seu passado, de suas circunstâncias psicológicas e outras. Tais teses são absorvidas pela população de todos níveis sociais.
Ainda que o indivíduo não tenha uma boa educação formal, ele acaba repetindo as teorias sociológicas e psicológicas difundidas pelas universidades. Daniels nos relata ouvir dos detentos tais teses como uma forma de se sentirem menos culpados. Situação bastante conveniente aos bandidos, pois, permite manter suas consciências tranqüilas. Ao criarmos explicações sociológicas e psicológicas para desvios de comportamento, acabamos por desumanizar os criminosos. Quando negamos sua capacidade de discernimento diminuímos sua humanidade, diz Daniels.
Paro aqui e convido você leitor a refletir comigo: parte da indisciplina que desorienta educadores por todo Brasil não poderia ser vista sob essa ótica? Não estaria nossos indisciplinados tirando proveito das diversas teorias sobre o comportamento dos adolescentes e sua indisciplina, que sugerem entre tantas teses que a indisciplina é fruto do caos familiar, da complicada relação professor-aluno, da hiperatividade, e tantas outras? Não é conveniente ao aluno justificar seu fracasso, ou sua indisciplina na crise familiar, na separação dos pais, na falta de carinho, na recusa dos pais em atender suas demandas financeiras e tantas outras?
Penso que devemos analisar questões como essas com mais cautela. Durante minha trajetória como professor, e agora como terapeuta percebo que poucas vezes o aluno é responsabilizado diretamente pelas suas atitudes. Quase sempre o encaminhamento ao coordenador, ou psicólogo, é acompanhado de um apelo a outras razões. Há sempre uma justificativa pronta, para além da responsabilidade sobre o fato, para tranqüilizar a consciência do jovem pela indisciplina praticada.
Pensem nisso!
Teuler Reis
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Pensando a indisciplina
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