Não – not – pas – non – em qualquer língua o “não” é uma negação – negar-a-ação. Se o sim é um caminhar adiante, o “não” nos diz que devemos parar. A conciliação entre essas duas “direções” determina o sucesso ou o fracasso de qualquer empreendimento. Faço lembrar que a vida é um empreendimento. Nossa história reflete a atitudes dos homens, a alternância dos “sins” e dos “nãos”. Aprendemos desde cedo a administrar nossos desejos e nossas vontades, tendo como fio condutor o “não” e o “sim”. A criança que se atira no seio da mãe diz involuntariamente um “não” à morte e consequentemente um “sim” a vida. Embora esse “não” esteja desde cedo na conduta humana, é preciso um aprendizado para tirar dele a melhor experiência. Obter o autocontrole do”não” pode fazer a grande diferença entre viver ou morrer, entre o sucesso ou o fracasso.
Muitos pais desconhecem a dimensão de um “não” na vida de seus filhos. Não aprenderam o valor da recusa como proteção, como parte de uma sabedoria. Quando falo aos pais em palestras sobre o “não”, começo com uma pergunta muito simples: a vida nos dá o não, qual é o não que a vida nos dá? Um silêncio inicial toma conta do auditório. A resposta vem logo: a morte. A morte é um “não” que a vida nos dá; além dele receberemos muitos outros, no trabalho, de amigos. Será possível criar uma criança sem lhe dar a dimensão do “não” na vida? Penso ser impossível. Podemos negar até certa idade, mas inevitavelmente uma hora ela sentirá o peso do “não”. O triste fim de Eloá é um exemplo claro disso. Os pais estão cheios de culpa, de medo, o “educar para vida” perdeu o lugar de destaque nas relações familiares. Vivemos uma banalização da função paterna, da educação. O encontro com o “não” tardiamente na vida pode representar um desastre. Estamos repletos de casos de jovens que levam “não” da pessoa amada e se desesperam, perdem o controle, se é que existe controle nesses casos. Lembro que controle é governo, domínio. Uma criança sem a oportunidade de vivenciar o “não” certamente deixará a desejar no seu autocontrole. Estará à mercê de impulsos internos.
O fato é que todos querem ser amados. Dizer “não” ao filho pode representar uma ameaça ao amor. Nunca deixei de amar meus pais, embora tenha recebidos muitos “nãos” durante minha infância. Os pais de hoje temem não serem amados e fazem de tudo para continuarem se sentindo amados pelos filhos, como se uma interdição determinasse o fim do amor. Querem a todo custo poupar os filhos da dor; como se fosse possível passar pela experiência humana sem sentir dor.
Teuler Reis – Autor de “ Educação e Cidadania: A Batalha de Uma Educação Comprometida” Editora WAK.
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Quando o “não” faz falta
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