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Jorge Forbes

Artigo publicado na revista WELCOME Congonhas, abril de 2007 - ano 1 - número 1

As vitrines das livrarias, em especial as dos aeroportos, expõem o que vende mais: livros de auto-ajuda. É uma verdadeira selva de “como isso”, “como aquilo”, manuais para “vencer rapidamente”, que já vêem com prazo vencido. Sim, pois a um livro sucede o próximo, para que o leitor tenha a impressão de que, se ainda não funcionou é porque ele não leu o último - ou o mais específico para ele. Criam-se séries de um título que vendeu bem: se o adulto gostou do “queijo salvador”, na semana seguinte aparecerá o “queijinho fresco”, para os jovens, e o “queijo envelhecido”, para o segmento oposto.
Grande colaborador deste mercado é a obrigação do sucesso. O sucesso nas vendas, no amor, na educação, na chefia, no esporte - e por aí vai. Quem poderia estar contra esta lista? O mais afoito diria: “Deveríamos lutar pelo fracasso?” Não é essa a questão. O problema não é “Sucesso, sim ou não?”; o problema, que passa despercebido tal qual um vírus, é a “obrigação”. A palavra sucesso, comecemos por ela, tem sua raiz no termo ceder, cair, no sentido de algo que se destaca, do que é diferente. O sucesso é algo que surpreende, por conseguinte, avesso a qualquer manual, pois o que surpreende não é previsível. Quando se resolve “embrulhar” o sucesso, como se faz com remédios, nos livros referidos - cheios de fórmulas e conselhos -, obtém-se o efeito contrário, a saber: não o comportamento surpreendente, mas o “genérico”, o “igual a todo mundo”. Não existe sucesso sem risco pessoal, sem o risco da vaia; qualquer artista sabe disso.
E por que então essa feira de ilusão da fórmula pronta? Porque na era da globalização em que vivemos não existem mais os parâmetros orientadores que balizavam o mundo industrial que nos antecedeu. As pessoas se sentem perdidas, ou melhor, desbussoladas. Não sabem nem o que, nem como fazer. Sofrem diante do risco embutido em se inventar uma vida, um estilo pessoal. E entre o prazer do aplauso e o medo da vaia, a maioria recua com medo - e abraça o primeiro que lhe acenar uma garantia. Pronto, aí a pessoas encontram a paz pretendida. Finalmente se livram da escolha que tanto temem, pois alguém lhes explica o “bom caminho” e ainda com a generosidade de convencê-las que foram elas mesmas as descobridoras da resposta - daí o nome auto-ajuda - quando obviamente se trataria, se fosse o caso, de uma “heteroajuda”, pois vem do outro, o autor do livro.
A obrigação do sucesso é, assim, uma corrida contra a angústia que esses tempos propiciam por deixar um amplo campo às opções pessoais, dada a queda dos padrões universais de comportamento. Da obrigação do sucesso ao chamado estresse, hoje tão em moda, é só um passo, é uma conseqüência lógica. Mas isso já é tema para outra análise.

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